POLÍTICA E VIRTUDES
Dom Fernando Arêas Rifan*
A política, como administração correta e honesta da coisa pública, é uma
profissão necessária e de grande valor. Mas, transformada em politicagem,
constitui-se no oposto das virtudes cristãs, que são a base da verdadeira
civilização. E é isso o que leva muita gente a não ter esperança na política
como solução para os problemas sociais nem nos políticos como leais condutores
do povo. Daí a indecisão na hora de escolher um bom candidato.
Basta analisar
algumas das virtudes cristãs. A virtude da humildade, por exemplo, essencial ao
cristianismo e à pacífica convivência humana, é a que menos se vê na política.
A humildade consiste no esquecimento de si mesmo, na ausência de egoísmo, no
desprendimento, na modéstia com relação a si próprio. E o que se vê comumente
no exercício da política é o contrário, é o império do "EU":
"porque os outros são isso ou aquilo, mas EU não..."; "porque os
outros não fizeram, mas EU fiz, Eu faço, EU farei, etc."... Exatamente o
linguajar do fariseu do Evangelho, que foi reprovado por Deus: "Graças vos
dou, ó Senhor, porque não sou como os outros homens... EU...".
A virtude da pobreza, isto é, do desprendimento, do desapego dos bens
materiais e do dinheiro: sua ausência dispensa demonstração. Qual é hoje o
político realmente despreocupado com o próprio bolso, que deseja trabalhar
exclusivamente em benefício do seu próximo? Quem entrasse na política, que de
si é um exercício de altruísmo e caridade, deveria sair do cargo que lhe foi
confiado com a mesma condição financeira com que entrou. Conhece o leitor algum
raro político dessa espécie?
E as virtudes da honestidade, da não acepção de pessoas, da caridade
desinteressada, do comedimento nas palavras, do respeito para com o próximo, do
amor pela verdade, da convicção religiosa, da constância, da fidelidade às
promessas e à palavra dada?
Como nos
aproximamos das eleições, gostaria de contribuir um pouco na escolha dos
melhores candidatos, publicando as bem-aventuranças do político, feitas pelo
Cardeal Van Thuân, então presidente do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz:
1º - Bem-aventurado
o político que tem consciência do próprio papel. 2º - Bem-aventurado o político
de quem se respeita a honorabilidade. 3º - Bem-aventurado o político que trabalha
para o bem comum e não para o próprio bem. 4º - Bem-aventurado o político que
se considera fielmente coerente e respeita as promessas eleitorais. 5º
-Bem-aventurado o político que constrói a unidade e, fazendo de Jesus o seu
centro, a defende. 6º - Bem-aventurado o político que sabe escutar o povo
antes, durante e depois das eleições. 7º - Bem-aventurado o político que não
tem medo, sobretudo da verdade. 8º - Bem-aventurado o político que não tem medo
da mídia, porque no momento do julgamento deverá responder somente a Deus.
Você vai usar esse
critério ou vai votar por interesse do seu próprio bolso ou sem critério
algum?! Nesse caso, você mereceria o adjetivo antônimo de bem-aventurado.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney
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